domingo, 13 de abril de 2008

Noite

Tão perto!
Tão longe!
Por onde
é o deserto?
Às vezes,
responde,
de perto,
de longe.
Mas depois
se esconde.
Somos um
ou dois?
Às vezes,
nenhum.
E em seguida,
tantos!
Avida
transborda
por todos
os cantos.
Acorda
com modos
de puro
esplendor.
Procuro
meu rumo:
horizonte
escuro:
um muro
em redor.
em treva
me sumo.
Para onde
me leva?

Pergunto a Deus se estou viva,
se estou sonhando ou acordada.
Lábio de Deus! - Sensitiva
tocada.

**Cecília Meirelles

-- sou daquelas pessoas matinais... adoro o amanhecer..... a noite me deixa confusa...
ouço sons.... penso demais.......

quarta-feira, 9 de abril de 2008


FOLHAS DE ROSA

Todas as prendas que me deste, um dia,

Guardei-as, meu encanto, quase a medo,

E quando a noite espreita o pôr-do-sol,

Eu vou falar com elas em segredo...

E falo-lhes d’amores e de ilusões,

Choro e rio com elas, mansamente...

Pouco a pouco o perfume do outrora

Flutua em volta delas, docemente...

Pelo copinho de cristal e prata

Bebo uma saudade estranha e vaga,

Uma saudade imensa e infinita

Que, triste, me deslumbra e m’embriaga

O espelho de prata cinzelada,

A doce oferta que eu amava tanto,

Que reflectia outrora tantos risos,

E agora reflecte apenas pranto,

E o colar de pedras preciosas,

De lágrimas e estrelas constelado,
Resumem em seus brilhos o que tenho

De vago e de feliz no meu passado...

Mas de todas as prendas, a mais rara,

Aquela que mais fala à fantasia,

São as folhas daquela rosa branca

Que a meus pés desfolhaste, aquele dia...


*Florbela Espanca

- manhã de quarta feira..... sol...seu azul..... estou lendo
O MARTELO DO ÉDEN (Ken Follet).... muito bom!
Ouvindo.... Enya - Only Time .......... divina!!
Meu coringão eliminado do paulistão..... e meu netinho cada
vez mais sapeca.... graças a Deus!!

terça-feira, 8 de abril de 2008

para vc amiga .........

Escrevo dentro da noite

Estou escrevendo para não gritar.

Para não acordar
os que dormem felizes lado a lado,
os que repousam, aconchegados,
os que se encontram e continuam juntos
e não precisam sonhar
porque não dizem adeus...
Estou escrevendo para não gritar.

Para enfunar o coração
ao largo.E as palavras escorrem salgadas como um córrego de
águas mortasnum silencioso pranto.
Tão perto, e nem percebes minha insônia.

Nem ouves
[a confidência.
que põe nódoas no papel para não ter que acordar-te
e se transmuda em palavras, que são estátuas de sal.

Estou escrevendo para não gritar. Para não ter tempo
[de acompanhar a noite,
para não perceber que estou só, irremediavelmente só,
e que te trago comigo
sem outra alternativa que o pensamento
- cela em que me debato a olhar a lua entre grades.

Estou escrevendo para não gritar. Para não perturbar
[os que se amam
se juntam, e se estreitam, e sussurram na sombra
e passeiam ao luar,para que as palavras chovam num dilúvio, silenciosamente,
e me alaguem, e me afoguem, e me deixem pela noite a dentro
como um corpo sem vida e sem alma,
a flutuar...


(J G de Araulo Jorge)